Nos dois eventos anteriores do UFC realizados no Rio de Janeiro, os
astros brasileiros do card principal conseguiram e vencer diante da
torcida. A primeira grande frustração em solo local veio com Wanderlei
Silva, que foi derrotado pelo norte-americano Rich Franklin no UFC 147
em Belo Horizonte.
Aos 35 anos, Wanderlei lutou cinco rounds contra o rival de 37, que só
venceu por decisão unânime dos juízes. Lenda do Pride, Wanderlei já
tinha perdido o confronto anterior contra Franklin por decisão em 2009, e
continuou sem conseguir duas vitórias seguidas no UFC.
Apesar de contar com o apoio maciço da torcida mineira, não conseguiu
achar o nocaute contra o rival, que substituiu o lesionado Vitor Belfort
no que seria o duelo de técnicos do The Ultimate Fighter Brasil.
Belfort assistiu à luta no Mineirinho e foi muito vaiado pela torcida
toda vez que aparecia no telão. Entre uma luta e outra, o lutador ouvia
gritos de “Ô, o Vitor arregou”.
O ex-campeão sofreu uma lesão na mão esquerda durante os treinos para
enfrentar Wanderlei, mas foi chamado de “amarelão e irresponsável” pelo
rival.
A torcida tomou partido de Wanderlei, que foi muito ovacionado desde
suas primeiras aparições na semana que antecedeu o evento em Belo
Horizonte. Chegou a dizer que, com todo esse apoio, “só perderia se
Franklin o matasse”. Não foi preciso tanto: bastou que o norte-americano
dominasse as ações no centro do octógono.
A apresentação dos lutadores contagiou o público, que gritou “It`s
time” junto com o locutor Bruce Buffer. Mas a empolgação esfriou no
começo da luta, que teve os dois lutadores se respeitando muito no
início.
Wanderlei acertou o primeiro direto após o primeiro minuto, e tomou a
iniciativa com cruzados e joelhadas. Mas Franklin estava mais inteiro no
fim do round e, com uma boa sequência de golpes, balançou o brasileiro.
O primeiro assalto terminou com Franklin no centro do octógono e Wanderlei tentando reagir com tentativas de chute na cabeça.
Os lutadores voltaram a diminuir o ritmo no segundo round, mas o
norte-americano seguiu melhor e chegou a derrubar o brasileiro com um
jab.
Wanderlei logo se levantou, e o melhor do “Machado Assassino” ainda
estava por vir. Mesmo sem o domínio do centro do octógono, foi mais
agressivo e conseguiu derrubar Franklin com um direto. A torcida
explodiu. O brasileiro marretou o adversário, que foi salvo pelo gongo.
Franklin se recuperou bem após quase sofrer nocaute e equilibrou a luta
no terceiro round. Já demonstrando um certo cansaço, os veteranos
voltaram a se estudar, e surgiram as primeiras vaias. O norte-americano
ainda teve fôlego para conseguir uma queda no final do assalto e
pressionou Wanderlei no ground and pound. Desta vez, era o brasileiro
quem era salvo pelo gongo.
O quarto round foi pouco movimentado, com Franklin tentando somar
pontos com sequências de jabs no centro do octógono. A luta esfriou
ainda mais depois que Wanderlei acertou em cheio a virilha do rival,
paralisando a luta. Depois do golpe baixo, o norte-americano voltou mais
agressivo, e a trocação passou a ser franca no fim do assalto.
Eis que os veteranos chegaram ao desgastante quinto round, não sem
antes se abraçarem em um gesto de respeito mútuo. Depois de quatro
minutos de pouca ação, Wanderlei bateu no peito e chamou o rival,
incendiando a torcida. Sabendo que precisava do nocaute, partiu para
cima com todas as forças, mas Franklin soube se defender. Mesmo com a
derrota do brasileiro, a torcida aplaudiu o resultado.
Wanderlei agradeceu ao público: “Desculpa, queria muito vencer, mas foi
uma honra lutar para vocês”. O brasileiro lamentou não ter conseguido o
nocaute no segundo round e admitiu que se desgastou a partir dali: “Dei
tudo naquela hora, mas acho que passei um pouco do ponto”.
Franklin, por sua vez, alegou ter sofrido uma espécie de amnésia:
“Depois do segundo round, não lembrava de mais nada, só depois do fim
percebi que chegamos até o quinto. Esse é o tipo de luta que eu gosto,
quando não lembro de nada do que aconteceu”.