domingo, março 25

Dos Caras Junior: Um Mexicano no MMA.

 

 Em 2003, o japonês Pride reunia o supra-sumo do MMA mundial e, mesmo assim, alterou suas regras por causa de um lutador mexicano com apenas com cinco lutas de experiência. Alberto Rodríguez, mais conhecido na época como Dos Caras Junior, foi o escolhido como desafiante do croata Mirko “Crocop” Filipovic, um dos maiores lutadores do mundo na época, e fez uma exigência: só subiria ao ringue se mantivesse a máscara de “lucha libre”.

“O mundo inteiro vê a máscara como uma excentricidade, algo que não tem sentido, algo engraçado. Mas não é nada disso. É uma tradição mexicana. É o legado dos ‘luchadores’. Eu sou de uma família de ‘lucha libre’. Meu avô foi lutador, meu pai é lutador, meu tio é lutador. Quando subi ao ringue de máscara, eu carregava toda essa história da minha família. As pessoas não entendiam isso”, diz Rodríguez.

 O pedido foi atendido, mas Dos Caras foi encarado como bizarrice, não como um desafiante real. O resultado, é verdade, não foi dos melhores: o mexicano foi nocauteado em 45 segundos por um dos famosos chutes de Crocop. O pedido, porém, não tinha nada de bizarro. Alberto é lutador de “lucha libre” (mesmo estilo do Telecatch brasileiro), assim como seu pai, Dos Caras, e seu tio, Mil Mascaras.

Mas também era um wrestler de luta Greco-romana premiado, com uma medalha de bronze no Campeonato Mundial Júnior de 1997, só não foi às Olimpíadas de Sydney-2000 porque o governo mexicano retirou a verba de toda a equipe e treinava com o brasileiro Marco Ruas, uma lenda das lendas do MMA brasileiro.

Apesar da derrota, a carreira de MMA não foi insignificante. Ele deixou os ringues com 14 lutas e nove vitórias. “Eu usei a máscara com orgulho nas primeiras seis ou sete lutas. Depois, lutei sem ela. Foi mais ou menos como aconteceu na “lucha libre””, conta Alberto, que aos 34 anos se tornou um dos lutadores de luta livre mais conhecidos do mundo.

O fim da carreira no MMA coincidiu com a aposentadoria da máscara de Dos Caras e com o nascimento de Alberto Del Rio, personagem com que vai se apresentar em São Paulo em maio. Em 2010, ele chegou ao WWE (World Wrestling Entertainment), o maior evento de luta livre encenada do mundo.

Antes, ele lutava por organizações menores, no México e na Ásia, aproveitando sempre a fama da família. “É claro que entrar na luta livre sendo filho de um lutador famoso é mais fácil, mas se manter por lá é muito mais difícil. Analisam você com muito mais cuidado, exigem mais”, diz o lutador.
 
Ao chegar aos EUA, encarou uma mudança drástica na carreira. Longe da fama do pai Dos Caras e do tio Mil Máscaras, ele teve de se reinventar. A máscara de “luchador” não era bem vista pelo WWE e, por dois anos, ele treinou em uma “liga de desenvolvimento” na Flórida, aperfeiçoando seu novo alter-ego, Alberto Del Rio.

“Quando tirei a máscara, tive que fazer muitas mudanças. A parte de interpretação passou a ser muito mais exigida. Com a máscara, sua expressão facial não importa. Quando você está sem, precisa atuar. Tive de trabalhar, é claro, mas descobri esse lado ator naturalmente”.

O problema maior foi a transição de mocinho, como ele era conhecido no México, para vilão, como se tornou famoso nos EUA. No WWE, ele é Alberto Del Rio, um aristocrata de família nobre do México, arrogante e convencido, que sempre entra no ringue com um de seus carros de luxo e tem seu próprio locutor.

“Minha família nunca teve um vilão. Eram todos sempre os mocinhos, os caras bons. E interpretar uma pessoa assim é complicado. Por isso, sempre que encontro alguém de quem não gosto, procuro observar com cuidado para usar no personagem”, revela. Essa observação deu certo: desde que chegou ao à organização, ele já venceu o WWE Championship (equivalente ao título mundial dos pesos pesados) duas vezes.

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